Pelas paróquias de Santo Tirso

Anos 80, aula de inglês dum qualquer ano do secundário, a professora pedia-nos frases que expressassem comparação: “He is strong like a bull”, “She is tall as a building”. As frases pareciam-me banais. Chegou a minha vez: “This bird sings like a Caruso”! Silêncio, riso… já não recordo a ordem das reacções da sala. Parece que ninguém, nem mesmo a professora, havia ouvido falar no tenor.

A vontade de praticar BTT pelos caminhos à volta de casa não tem sido muita. Os trilhos interessantes não abundam, a folhagem do eucalipto é pouco fotogénica e já não resta muito que explorar. Quando na semana passada vejo a fotoreportagem da incursão do Joel Braga pelas 49 igrejas de Famalicão a coisa fascinou-me. Ainda devo ter resquícios dalgum daqueles distúrbios que faz com que gostemos de ver as coisas alinhadas por isso pareceu-me que o facto de haver um tema a ligar aquele conjunto de fotos as tornava imensamente atractivas.

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Couto (Sta. Cristina)

Inspirado, de imediato comecei a trabalhar no meu projecto. Não queria repetir o que já fora feito, por isso voltei-me para o concelho de Santo Tirso onde se encontram os meus trilhos favoritos aqui das redondezas. A meio da semana já tinha o percurso alinhavado. Por uma questão de delicadeza informei o Joel de que ia usar a ideia e lancei o convite a habituais companheiros de pedalada, caso tivessem interesse em acompanhar. No dia acabaram por aparecer cinco (Jorge, Tico, Daniel, Major e Zé d’Infantas).

A elaboração do percurso deu-me um enorme prazer pois ao longo do processo, levado por aquele fascínio em perceber a ordem das coisas, acabei por ficar a conhecer um pouco da organização das paróquias, assim como da história dos seus santos padroeiros. Anotei tudo numa pequena tabela que iria recordando ao longo do percurso que visitaria as 25 paróquias a considerar.

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Campo (S. Martinho)

Desde cedo me apercebi que os meus companheiros não iriam partilhar aquele entusiasmo. As reacções variaram essencialmente entre o desdém e o ignorar. A sensação com que fiquei no final foi de que quem não pode concluir o percurso também não ficou muito desgostoso com isso.

Já agora, para que fique registado, não foi um percurso de BTT puro e duro. O objectivo era apenas ligar os pontos da forma mais expedita possível, evitando estradas movimentadas. Mas o sobe-e-desce quase constante e o terreno mais agressivo no final acabaram por fazer mossa.

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Vila das Aves (S. Miguel)

Umas igrejas mais bonitas que outras e umas fotos mais bem conseguidas que outras. Se o enquadramento escolhido nem sempre foi o melhor a quantidade de cabos aéreos estendidos também não facilitou. Para mim o resultado global foi bom. Apesar de cansado, já comecei a matutar no próximo. É que o episódio da aula de inglês não me desmotivou por aí além. Ainda há uns dias estava a ler sobre Maria Callas na wikipedia, mas não falei disso a ninguém.

As 25 paróquias do concelho de Santo Tirso em fotos

 

Pelas paróquias de Santo Tirso

Revisitar a Peneda

Um percurso desenhado há meses e guardado na gaveta foi o pretexto para o convite lançado. Só o nosso “Major” anuiu. Objectivo: percorrer a ecovia que vai de Arcos de Valdevez até Sistelo e de seguida escalar a Peneda para percorrer os habituais trilhos que apreciamos. Havia ainda a hipótese duma visita à Lagoa da Peneda, que tanta curiosidade me suscita.

O percurso pela ecovia superou as expectativas. Sempre com a companhia do límpido Rio Vez e com um traçado realmente digno de ser percorrido de BTT. Achei até algumas semelhanças com a famosa Geira Romana de Terras do Bouro.

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A ecovia acompanhando o Vez

Iniciámos depois a subida da serra. O avistar dos bosques de coníferas deu-me de imediato aquela sensação de prazer. Oposta à sensação de dor por ter de transpor à mão algumas secções mais complicadas.

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Tal… Vez?

O passar do tempo é implacável e as nossas conversas acabam por descambar para reflexões filosóficas sobre as consequências do envelhecimento. É um facto que estamos uns anos mais velhos e isso reflete-se (e não é pouco!) no corpo mas também na atitude. E talvez por isso fomos parando amiúde, com naturalidade, para apreciar a paisagem , retemperar as forças e dar mais dois dedos de conversa.
“Ai que prazer. Não cumprir um dever, ter um livro para ler. E não o fazer!” – assim afirmava o poeta dos heterónimos. Também o meu parceiro tem diversos heterónimos e também ele a certa altura do dia fazia o elogio da preguiça. Preguiça essa que nos levou a abdicar da visita à lagoa. “Provavelmente nem tem água, como aquelas do Gerês no ano passado.”, justificámo-nos. Afinal parece que tem água o ano todo, segundo a indígena do café. Ai que prazer, ter uma subida pela frente e não a fazer.

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Branda de Sto António
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Branda das Bosgalinhas

Da da Branda das Bosgalinhas é que não nos livrámos. Como se não bastasse, troquei um zig por um zag e fizemos a versão hardcore.

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O planalto da Peneda, se assim lhe podemos chamar, trouxe-me grandes memórias de 2004, quando conheci o meu actual companheiro de jornada. Quem diria que dois tipos que até nem atinavam muito ainda por ali andariam treze anos depois.

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O ogre e o santo, no topo da serra

Estes são a minha serra e trilhos favoritos. Durante algum tempo larguei o meu parceiro e deliciei-me de forma egoísta com aquele granito que me fazia abanar os ossos. Os mesmos que, há meses atrás, depois do acidente, julguei nunca mais atrever a sujeitar a este tipo de tareia.

A descida durou o que devia significar que estivemos num ponto alto, o que devia justificar o porquê de já estarmos cansados.

Chegámos ao ponto de partida e, como de costume, arrumámos as coisas e cada qual foi à sua vida. Apenas um “Até à próxima.”

Nota: fotos e vídeo:

Revisitar a Peneda