Manobras XVII

Passados 17 anos ainda continua a haver quem tenha força de vontade para manter de pé este encontro de seres pedalantes. Se mais motivos não houvesse, pelo menos o estoicismo deste pessoal merece ser recompensado com a nossa presença. E lá compareci, mas não para recompensar alguém. A verdade é que ainda conseguem arranjar um percurso agradável com segmentos capazes de surpreender (mesmo os conhecedores da região). E isso não é fácil, num território dominado pela monocultura do eucalipto e onde nem sempre são respeitadas as preocupações ambientais.

Desta vez fui sozinho e assim fiz questão de me manter durante a totalidade do percurso. Queria apenas andar de bicicleta, passar um bom pedaço nos trilhos e isso, no meu entender, não combina com tipos aos berros ou com uma grafonola humana a debitar constantemente histórias dos caminhos de Santiago ou do sexagésimo lugar que conseguiu num evento qualquer.

Já há cerca dum ano que não participava em algo com mais de meia dúzia de pessoas, a última vez terá sido mesmo o Manobras XVI. Constatei com agrado que a moda das meias altas parece estar a esmorecer. Já as rodas grandes parecem ser agora omnipresentes, o que torna a minha velha montada algo de excepcional hoje em dia.

Estranhará talvez o leitor o facto de desta vez não haver nenhuma foto a ilustrar o texto. A verdade é que levei máquina e à primeira paisagem digna de registo encostei ao lado e preparei-me para registar o cenário, com os ciclistas em fila a percorrerem um bonito singletrack pelo meio dum bosque frondoso. Precisamente no momento em que pressiono o botão do obturador, um idiota, apercebendo-se, levanta o dedo em sinal de “kudos”, arruinando a foto. Perdi a vontade de fotografar mais.

Além do bosque citado no parágrafo anterior, ali para as bandas de Vilarinho das Cambas, o percurso teve outros momentos altos: os trilhos técnicos da Cividade, uma dura subida para os lados de Viatodos e a descida que se lhe seguiu. Percurso bem desenhado que merecia outro reconhecimento.

O Manobras nunca atingiu a popularidade de outros eventos. O pessoal parece que prefere pagar para fazer um qualquer percurso maricas, sem arranhões, com fotógrafo profissional que tolere os “kudos” e uma classificação (de preferência com muitos escalões, para aumentar as hipóteses dum top 10 lá entre o pessoal da rua). Claro que no fim não pode faltar a comezaina, aliás, o parâmetro mais utilizado pelos participantes para avaliar a qualidade desses eventos.

Mas o M não tem nada disso. E é por isso que gosto.

Manobras XVII