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Tinha na gaveta um percurso que tinha sobrado do #Festive500. Na altura não houve oportunidade para o realizar mas contava fazê-lo logo que possível. O leitmotiv era percorrer mais uma estrada escondida na montanha que, pelas informações recolhidas, parecia ser de grande beleza.
Enviei uma mensagem a desafiar o companheiro mais habitual. Ele retorquiu com um convite para mais uma ida ao S. Gonçalo. Tive a intuição que era para uma espécie de rally das tascas, algo a que sou bastante avesso. Amigo não empata amigo, cada qual iria ao seu destino.
Será pouco original nesta altura referir o frio que se fazia sentir quando saí de casa. Mas parece que com o passar dos anos o vou tolerando melhor. Mesmo a chuva, não fosse o desgaste que provoca no material, já não me chateia tanto como noutros tempos. O mesmo não se pode dizer de alguns outros adeptos do pedal com quem me ia cruzando, cujo equipamento parecia mais apropriado para uma expedição polar que para uma volta de bicicleta.
A estrada que procurava ficava para as bandas da Gandarela pelo que o percurso escolhido foi o tradicional Guimarães-Fafe-Lameira. Estava a planear utilizar a ciclovia mas obras de recuperação do piso fizeram-me desviar para a estrada nacional. A meio da subida da Lameira uma persistente chuva molha-tolos fez a sua aparição. Comecei a pensar que se lá em cima a temperatura baixasse bastante as condições iriam ficar desafiantes.
Felizmente que as dificuldades nunca foram além do razoável e passados alguns minutos já me encontrava a descer para a Gandarela onde iria encetar o regresso, encosta acima, a caminho do Viso.
Cedo fiquei encantado quando entrei na estrada estreita que me tinha proposto explorar. Subia encosta acima, numa espécie de anfiteatro para os trabalhos nos campos e na vinhas. A escalada era efectuada por degraus. Pequenas rampas bastante inclinadas mas a que logo se seguiam zonas planas onde as pernas descansavam. Se fosse sempre assim não ia ser difícil.
Mas donde raio saiu isto??? Não me apercebi destas curvas de nível nos mapas! O alcatrão desaparecera e uma rampa de inclinação absurda serpenteava pelo meio do casario. Meti a mudança mais leve e tentei pedalar em pé. De imediato a roda traseira começou a patinar na pedra húmida. Tentei seguir sentado mas a certa altura achei que não seria vergonha nenhuma se caminhasse um pouco. Os sapatos de estrada não são lá muito práticos para este tipo de deslocação, tentei facilitar pisando a relva da berma. Felizmente que o asfalto voltou a aparecer 20m à frente e, apesar da inclinação, já era possível pedalar novamente.
Já a uma cota mais alta, intervalada por alguns vales e até uma pequena represa, chego a um complexo habitacional em construção. Casas modernas com vedações em madeira tratada e algumas delas ladeadas por pequenos campos de futsal. Fiquei na dúvida se seriam de habitação própria ou algum complexo turístico. Seja como for, o lugar é fantástico.
Continuando a avançar, entronquei numa estrada que reconheci de outra incursão há longos meses atrás. A certa altura, depois duma curva, deparo-me com um guarda da GNR. Estava a implementar segurança aos treinos dum piloto de rally (um tal de João Barros…). Fiquei por ali uns minutos à conversa e tive oportunidade de assistir a duas passagens do potente Fiesta naquela recta a cerca de 160km/h, segundo afirmavam alguns observadores no local.
Despedi-me do guarda e, enquanto me afastava a caminho da Sra do Viso, ia ouvindo ao longe, atrás de mim, o ruidoso motor a ecoar pela floresta. Mais uma pausa para foto numa bucólica estrada e pouco depois estava na capela envolta pelo nevoeiro.
A partir daí foi seguir o caminho habitual de regresso a casa, por Felgueiras. As pernas não demonstravam grande frescura (falta de kms? frio?) mas já perto de casa, numa cota mais baixa e com a temperatura mais elevada, lá começaram a recuperar permitindo chegar a casa em boas condições.
Atendendo às agrestes condições atmosféricas dos últimos dias, e às previsões de agravamento, não me surpreendeu o convite que o Daniel me enviou a meio da semana para irmos pedalar para a montanha. Acha o caro leitor estranha esta conjugação de ideias? Passo a explicar. É aquele fascínio pela neve de quem não está habituado à sua presença. Havendo a hipótese de que esteja para chegar, lá corre o pessoal ao seu encontro. Uma observação mais atenta das condições meteorológicas logo me levou a perceber que a possibilidade de encontrar tal fenómeno era remota. Mas havia sempre o motivo supremo: pedalar.
Antes das 9:00 combinadas já todos nos encontrávamos na aldeia da Boavista, na berma da N15, tentando preparar o corpo para enfrentar em cima da bicicleta aquela temperatura gélida.
Os primeiros kms levaram-nos a percorrer caminhos pelo vale da Campeã. Apesar de atordoado pelo frio, ia repartindo a atenção entre memórias de outras incursões pelos mesmos trilhos e discussões, por vezes profundas, sobre a natureza humana e as redes sociais. Não me tenho em grande conta quanto a ser um tipo popular mas, atendendo à quantidade de assuntos que o Jorge ansiava por discutir comigo, se calhar terei de rever em alta essa opinião.
Todos os temas se desvaneceram perante a concentração e esforço necessários para vencer a subida que se seguiu. Foram largos minutos de ascensão onde cada qual se empenhou apenas no desafio que tinha pela frente. Por vezes penso se não seria essa a solução para todos os males do mundo, um valente empeno global. Ou isso ou sexo desvairado…
Lá no alto encontrámos os conhecidos estradões das eólicas que tantas vezes nos tinham resgatado das entranhas do Alvão, na fase final de passeios épicos. Mas neste dia para o Alvão não avançaríamos mais. Em vez disso iríamos procurar outros caminhos que nos levariam à Sra de La Salette, em Vila Cova.
Um antigo complexo mineiro, mesmo ao lado da capela, deixou-nos curiosos e fomos investigar. Por sorte ou coincidência encontrámos um conhecedor do local que, qual guia turístico, dispôs do seu tempo para nos elucidar um pouco sobre a história daquelas minas de ferro, entretanto desactivadas.
Terminada a visita seguimos então por caminhos rurais até ao alto do Velão. Mesmo com uns improvisos na navegação e um furo pelo meio, conseguimos avançar com fluidez. O gelo que frequentemente estalava debaixo das rodas é que não parecia incomodar a senhora que no tanque da aldeia lavava com mãos nuas a roupa da semana.
Por esta altura já tínhamos percorrido metade do percurso estimado e a hora ainda não era tardia. Meti um pouco de “veneno” sugerindo um desvio para as bandas de Campanhó, só para apimentar as coisas. A sugestão não pegou e continuámos no trilho previsto, a caminho do alto de Espinho. Recordações de há 10 ou 15 anos atrás acompanhavam-me ao longo da ligeira subida.
Passámos a N15 para o outro lado e fomos percorrer um pouco da encosta do Marão. Uns seguiam na cavaqueira, outros entretidos a apreciar a paisagem. Esta parte do percurso enchia-me os olhos, com as grandes coníferas a dominarem. O GPS indicava que por baixo de nós estava o famoso túnel. Ao longe uma corsa esquiva desaparecia por entre a vegetação. Seria a mesma de há 7 anos atrás, num dia também muito frio na companhia do Major?
Voltámos a descer e a cruzar a N15 em direcção ao vale da Campeã. Mais uma surpresa: o vale é percorrido por um alegre ribeiro (cujo nome ainda não consegui descobrir) envolto na mesma vegetação luxuriante que abunda por aquelas bandas.
Esta segunda parte do percurso estava a surpreender. Felizmente que o tal desvio por Campanhó não tinha ido avante, permitindo-nos aproveitar para apreciar com tempo estes caminhos. É que, com o aproximar da tarde, o vento fazia a sua aparição e uma baixa de temperatura desagradável invadia-nos as extremidades do corpo.
Aquele incentivo gelado fez-nos regressar de bom grado ao ponto de partida. Depois de alguma indecência em trajos menores na berma da N15 recolhemos ao conforto das viaturas só voltando a parar à entrada de Amarante para recuperar o estômago na Tasca do João.