Revisitar a Peneda

Um percurso desenhado há meses e guardado na gaveta foi o pretexto para o convite lançado. Só o nosso “Major” anuiu. Objectivo: percorrer a ecovia que vai de Arcos de Valdevez até Sistelo e de seguida escalar a Peneda para percorrer os habituais trilhos que apreciamos. Havia ainda a hipótese duma visita à Lagoa da Peneda, que tanta curiosidade me suscita.

O percurso pela ecovia superou as expectativas. Sempre com a companhia do límpido Rio Vez e com um traçado realmente digno de ser percorrido de BTT. Achei até algumas semelhanças com a famosa Geira Romana de Terras do Bouro.

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A ecovia acompanhando o Vez

Iniciámos depois a subida da serra. O avistar dos bosques de coníferas deu-me de imediato aquela sensação de prazer. Oposta à sensação de dor por ter de transpor à mão algumas secções mais complicadas.

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Tal… Vez?

O passar do tempo é implacável e as nossas conversas acabam por descambar para reflexões filosóficas sobre as consequências do envelhecimento. É um facto que estamos uns anos mais velhos e isso reflete-se (e não é pouco!) no corpo mas também na atitude. E talvez por isso fomos parando amiúde, com naturalidade, para apreciar a paisagem , retemperar as forças e dar mais dois dedos de conversa.
“Ai que prazer. Não cumprir um dever, ter um livro para ler. E não o fazer!” – assim afirmava o poeta dos heterónimos. Também o meu parceiro tem diversos heterónimos e também ele a certa altura do dia fazia o elogio da preguiça. Preguiça essa que nos levou a abdicar da visita à lagoa. “Provavelmente nem tem água, como aquelas do Gerês no ano passado.”, justificámo-nos. Afinal parece que tem água o ano todo, segundo a indígena do café. Ai que prazer, ter uma subida pela frente e não a fazer.

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Branda de Sto António
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Branda das Bosgalinhas

Da da Branda das Bosgalinhas é que não nos livrámos. Como se não bastasse, troquei um zig por um zag e fizemos a versão hardcore.

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O planalto da Peneda, se assim lhe podemos chamar, trouxe-me grandes memórias de 2004, quando conheci o meu actual companheiro de jornada. Quem diria que dois tipos que até nem atinavam muito ainda por ali andariam treze anos depois.

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O ogre e o santo, no topo da serra

Estes são a minha serra e trilhos favoritos. Durante algum tempo larguei o meu parceiro e deliciei-me de forma egoísta com aquele granito que me fazia abanar os ossos. Os mesmos que, há meses atrás, depois do acidente, julguei nunca mais atrever a sujeitar a este tipo de tareia.

A descida durou o que devia significar que estivemos num ponto alto, o que devia justificar o porquê de já estarmos cansados.

Chegámos ao ponto de partida e, como de costume, arrumámos as coisas e cada qual foi à sua vida. Apenas um “Até à próxima.”

Nota: fotos e vídeo:

Revisitar a Peneda

Do Lourido à Ermida

O irritante vento de nordeste acompanha-me até Ponte da Barca, apostado em me estragar o dia. Vou amaldiçoando o facto de morar num eucaliptoquistão ondulado e ter de percorrer estas distâncias para chegar às montanhas verdadeiramente interessantes, assim como a uma floresta um pouco mais variada.

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Por trilhos de BTT já conhecia Lourido e a Ermida mas não a estrada que as liga. As fotos do street view foram um estimulante. Mas ao vivo foi ainda melhor.

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O final tem tanto de duro como de belo. A visão da estrada umas dezenas de metros acima, depois da curva, e o desafio de termos de chegar lá… quando se vence esse desafio solta-se uma sensação de prazer.

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Não parei durante a subida mas a descida foi lenta, para apanhar todos os bonecos que tinha imaginado durante a a ascenção.

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A vantagem de relativizar as coisas: com a dureza do final da ascenção à Ermida o regresso por Germil até pareceu uma coisa rolante (mas se calhar não foi alheio a isso o vento que se fez sentir pelas costas).

Do Lourido à Ermida

Meias de compressão

Saio mais uma vez à noite para pedalar. Está frio, como é costume nesta época. Cruzo-me com alguns ciclistas que aproveitam esta hora para dar também as suas pedaladas. E cruzo-me também com um tipo a correr. Lembro-me da brincadeira do Ricardo Araújo Pereira: este pessoal agora não corre nem faz atletismo, pratica running. Continuo a pedalar, esperando que com o esforço o corpo vá aquecendo. Sozinho, sem ninguém com quem falar (até parece que sou tipo de muita conversa…), a mente vai divagando. E penso neste blog e na hipótese de ser mais um projecto sem futuro por falta de conteúdo. Podia escrever sobre o tipo do running e as suas caricatas meias de compressão. Adoro implicar com tipos que usam meias de compressão. Tento antever se aquilo é mesmo amor à modalidade ou se é apenas uma moda passageira. Recordo quando há 18 anos atrás resolvi retomar a velha paixão da infância e adolescência pelas bicicletas. Devia ser um tipinho mesmo irritante. Aliás, estou certo que ainda haverá quem me considere um tipinho irritante, sempre a puxar a conversa para o tema das bicicletas. Nessa época muitos havia que me acompanhavam nessa paixão. Hoje poucos restam. Será que o tipo das meias de compressão daqui a 10 anos ainda cá anda com o mesmo entusiasmo? Ou será que o casamento, o nascimento do filho, a mudança de casa ou aquela gripe, que o apanhar precisamente no pico de forma e que o vai fazer ficar parado durante 15 dias a ganhar peso, lhe vai esmorecer a paixão e o entusiasmo para recomeçar quase tudo de novo? Este tema das meias de compressão e do running podia bem ser a salvação deste blog… Era fácil, bastava começar para aqui a descarregar algumas opiniões que tenho sobre esses temas. E que não são lá muito abonatórias. Mas depois começa a consciência a massacrar-me: “Olha lá, ó palerma, vais agora implicar com os moços por andarem atrás duma moda ou por utilizarem toda aquela parafernália de acessórios ridículos? Mas tu não te lembras da figura que fazias há uns anos com os teus amigos do BTT?”. E lá se foi o assunto. Felizmente que uma subida se aproxima. E quando vamos em esforço não temos grande disponibilidade para raciocínios complexos. Quem perde é este blog, que continua condenado ao fracasso.

Meias de compressão