#Festive500 2017

Prólogo

No primeiro ano em que este desafio foi lançado no Strava não pude participar. Tenho memória de que  foi complicado para quem meteu pedais ao caminho: chuva, vento, frio, houve de tudo. Li na altura alguns relatos que me deixaram aquele sentimento de “quem me dera lá ter estado”. No ano seguinte a coisa proporcionou-se e fiquei com belas memórias de grandes passeios em dias frios de inverno. Daí para cá espero com ansiedade por aquela semana do ano em que o estímulo dum objectivo a cumprir nos faz sair da casa para enfrentar, por vezes, condições nada agradáveis. Mas no fim sobram sempre recordações que alimentam o desejo de repetir no ano seguinte.

Dia 1 – Domingo 24, o arranque apreensivo

Um princípio de febre, diarreia e mal estar geral tinham-me apoquentado a meio da semana. Apesar de tudo não parecia grave e dois dias depois já parecia recuperado mas duas dúzias de kilometros de teste na sexta-feira deixaram-me de rastos. Durante a noite ainda me doeu a cabeça e de madrugada levantei-me para me socorrer do ben-u-ron. Quando passadas umas horas o despertador tocou, levantei-me apreensivo. O percurso previsto ultrapassava um pouco os 100km. Se na sexta-feira tinha sido assim…

Para meu alívio afinal senti-me bem. O traçado levou-me a revisitar uma zona entre Prado e Barcelos que na semana anterior já tinha visitado com o Tico, proporcionando a descoberta de mais umas estradas e um surpreendente troço do Rio Neiva.

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#Festive500, dia 1, 110km
Dia 2 – Segunda 25, a tranquila manhã de Natal

Não me recordo se algum dia calhou ter pedalado no dia de Natal. Sendo assim esta pode contar como uma estreia. Que tranquilidade fantástica. Não havia quase ninguém na rua. Subi devagarinho até à Assunção. O tempo tinha mudado. Havia vento e a certa altura uma chuva não muito intensa resolveu acompanhar-me um pouco. Desfrutei a descida da Seroa e rolei tranquilamente até casa.

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#Festive500, dia 2, 54km
Dia 3 – Quarta 27, não há arrependimentos

O dia anterior esteve mau em termos meteorológicos. Dizem que o responsável foi um tal de Bruno. Aproveitei para tratar de outros assuntos. Mas neste dia havia que continuar e o plano era um pouco mais ambicioso: estimava mais de 150 kilometros, alguns deles por locais ainda desconhecidos mas que prometiam paisagem interessante. Para isso necessitava de chegar às pontes de Entre-os-Rios, lá para as bandas de Alpendurada. A previsão meteorológica era algo incerta mas dava esperanças de sossego durante a manhã. Ao sair de casa, atendendo às zonas negras que havia em vários pontos do céu, tive as minhas dúvidas. O trajecto escolhido incluía a tranquila subida pela Capela e a certa altura julguei que S. Pedro era mesmo meu amigo, atendendo ao lindo céu azul que por cima de mim deixava passar o sol. Mas eis que na descida para as termas de S. Vicente tudo muda muito depressa. Grandes nuvens negras começam a cobrir o céu, aparece a chuva deixa de haver sinais do céu azul de há pouco. A sensação com que fiquei é que dali só podia piorar e comecei a ponderar como seria passar uma horas no meio daquilo e em estradas cujas dificuldades desconhecia. Em suma, acagacei-me!

Resolvi por isso virar para Penafiel e improvisar algo para regresso a casa. Nota mental: não voltar a pedalar na EN106!

Entretanto o tempo mudara mais uma vez, voltando a dissipar as nuvens (que mais tarde voltariam, acompanhadas de chuva, e voltariam a desaparecer… e voltariam…). Comecei a censurar-me: foste medricas, não sabes que a regra de ouro é “stick with the plan”? Tenho uma memória de ir a subir a principal avenida de Penafiel enquanto me debatia com estes pensamentos e a certa altura decidir que a decisão foi consciente, estava tomada e não ia deixar que o remorso me estragasse o resto da jornada. Nada de arrependimentos, ainda havia muito caminho para andar.

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#Festive500, dia 3, 131km
Dia 4, Quinta 28, pernas tristes

Com coisas para fazer de manhã, fui pedalar depois de almoço. Não se pode dizer que o frio tenha marcado a sua presença por estes dias mas a chuva sim, o que fez com que tenha saído de casa preparado para a enfrentar. Infelizmente fiz mal “as contas” e no fim, quando tentava justificar o facto de as pernas se terem portado tão mal, culpei a espécie de sauna que me envolveu durante todo o percurso por excesso de roupa. Se calhar o motivo até foi outro qualquer… Volta simples em que se destacou a sempre bonita subida da Penha.

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#Festive500, dia 4, 79km
Dia 5, Sexta 29, pernas felizes

Tão más tinham sido as sensações do dia anterior que ponderei se não seria melhor fazer um intervalo e dar descanso às pernas. Mas pela hora de almoço, sem compromissos para de tarde, a vontade voltou e lá me fiz à estrada. Mas desta vez ia fresco, inclusive de calções. Não sei se foi por isso ou por outro motivo qualquer (existe uma teoria baseada no consumo de vinho tinto…), a verdade é que as pernas estavam soltas e o ritmo foi fácil e agradável. Aeródromo, Sta. Eufémia, Fradelos… quando cheguei a casa apenas me faltavam 50 kilometros para o objectivo. Com dois dias ainda de sobra, podia afirmar que estava feito.

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#Festive500, dia 5, 75km
Dia 6, Sábado 30, de volta à roda grossa

E para a jornada derradeira ia mais uma vez ter a companhia do Tico. Só lhe fiz uma proposta: vamos a Quereledo comer uma sandes de rojão e beber uma cola, pelo caminho fazemos uns trilhos. E assim foi, um sobe e desce por trilhos quase sempre conhecidos. Aqueles que não eram conhecidos até deram para empurrar a montada. Muita conversa pelo caminho e no regresso ainda fomos visitar e desejar um bom ano a uma velha glória. Havia uma ténue esperança de que a nossa presença a recuperasse mas essa perspectiva não parece estar estar no horizonte.

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#Festive500, dia 6, 56km
Epílogo

Todos os anos este desafio é diferente e este não foi excepção. Houve anos marcados por percursos que tiveram algo de épico, o do ano passado foi complicado por estar ainda a convalescer do acidente. Este diria que foi o da oportunidade. Passo a explicar: tinha planos mas que não me iriam dar prazer caso se cumprissem as piores previsões da meteorologia e por isso fui andado ao correr das oportunidades. Foram voltas mais pequenas e, curiosamente, acabei por apanhar pouca chuva, inclusive menos que no desafio de anos anteriores.

#Festive500 2017