Abril

O final deste mês de Abril proporcionou algumas pedaladas de qualidade. Mais de 200 quilómetros a solo, com passagem pelo Marão e pelo Alvão, proporcionaram um bom dia de… introspecção. O teste a uma das “subidas épicas” foi um dos pontos de interesse do dia que permitiu confirmar que passados 15 anos o Homem da Marreta ainda continua à espreita nas encostas de Barreiro. Nem uma avaria na mudança da frente, já no regresso e que impeda o uso do prato grande, conseguiu estragar o dia. Resolvida numa… carpintaria! Quase de seguida achámos, eu e o Tico, que depois de tanto asfalto era altura de confirmar que ainda sabemos andar fora de estrada. Confesso que não era a minha primeira ou segunda escolha mas ainda bem que seguimos a vontade dele indo até Valongo. Seguindo um trajecto já conhecido, conseguimos improvisar bastante sem nos metermos em becos sem saída, o que é raro, completando um percurso de grande qualidade. Uma bela dor de pernas foi o corolário de um dia onde mais uma vez se ouviu a justificação “(…) vamos pelo monte, que pela estrada é muito monótono (…)”.

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N304, Serra do Alvão, 25.4.2018
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Valongo, 28.4.2018
Abril

Dia de reis, mas nem todos magros

Atendendo às agrestes condições atmosféricas dos últimos dias, e às previsões de agravamento, não me surpreendeu o convite que o Daniel me enviou a meio da semana para irmos pedalar para a montanha. Acha o caro leitor estranha esta conjugação de ideias? Passo a explicar. É aquele fascínio pela neve de quem não está habituado à sua presença. Havendo a hipótese de que esteja para chegar, lá corre o pessoal ao seu encontro. Uma observação mais atenta das condições meteorológicas logo me levou a perceber que a possibilidade de encontrar tal fenómeno era remota. Mas havia sempre o motivo supremo: pedalar.

Antes das 9:00 combinadas já todos nos encontrávamos na aldeia da Boavista, na berma da N15, tentando preparar o corpo para enfrentar em cima da bicicleta aquela temperatura gélida.

Os primeiros kms levaram-nos a percorrer caminhos pelo vale da Campeã. Apesar de atordoado pelo frio, ia repartindo a atenção entre memórias de outras incursões pelos mesmos trilhos e  discussões, por vezes profundas, sobre a natureza humana e as redes sociais. Não me tenho em grande conta quanto a ser um tipo popular mas, atendendo à quantidade de assuntos que o Jorge ansiava por discutir comigo, se calhar terei de rever em alta essa opinião.

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Todos os temas se desvaneceram perante a concentração e esforço necessários para vencer a subida que se seguiu. Foram largos minutos de ascensão onde cada qual se empenhou apenas no desafio que tinha pela frente. Por vezes penso se não seria essa a solução para todos os males do mundo, um valente empeno global. Ou isso ou sexo desvairado…

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Lá no alto encontrámos os conhecidos estradões das eólicas que tantas vezes nos tinham resgatado das entranhas do Alvão, na fase final de passeios épicos. Mas neste dia para o Alvão não avançaríamos mais. Em vez disso iríamos procurar outros caminhos que nos levariam à Sra de La Salette, em Vila Cova.

Um antigo complexo mineiro, mesmo ao lado da capela, deixou-nos curiosos e fomos investigar. Por sorte ou coincidência encontrámos um conhecedor do local que, qual guia turístico, dispôs do seu tempo para nos elucidar um pouco sobre a história daquelas minas de ferro, entretanto desactivadas.

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Terminada a visita seguimos então por caminhos rurais até ao alto do Velão. Mesmo com uns improvisos na navegação e um furo pelo meio, conseguimos avançar com fluidez. O gelo que frequentemente estalava debaixo das rodas é que não parecia incomodar a senhora que no tanque da aldeia lavava com mãos nuas a roupa da semana.

Por esta altura já tínhamos percorrido metade do percurso estimado e a hora ainda não era tardia. Meti um pouco de “veneno” sugerindo um desvio para as bandas de Campanhó, só para apimentar as coisas. A sugestão não pegou e continuámos no trilho previsto, a caminho do alto de Espinho. Recordações de há 10 ou 15 anos atrás acompanhavam-me ao longo da ligeira subida.

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Passámos a N15 para o outro lado e fomos percorrer um pouco da encosta do Marão. Uns seguiam na cavaqueira, outros entretidos a apreciar a paisagem. Esta parte do percurso enchia-me os olhos, com as grandes coníferas a dominarem. O GPS indicava que por baixo de nós estava o famoso túnel. Ao longe uma corsa esquiva desaparecia por entre a vegetação. Seria a mesma de há 7 anos atrás, num dia também muito frio na companhia do Major?

Voltámos a descer e a cruzar a N15 em direcção ao vale da Campeã. Mais uma surpresa: o vale é percorrido por um alegre ribeiro (cujo nome ainda não consegui descobrir) envolto na mesma vegetação luxuriante que abunda por aquelas bandas.

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Esta segunda parte do percurso estava a surpreender. Felizmente que o tal desvio por Campanhó não tinha ido avante, permitindo-nos aproveitar para apreciar com tempo estes caminhos. É que, com o aproximar da tarde, o vento fazia a sua aparição e uma baixa de temperatura desagradável invadia-nos as extremidades do corpo.

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Aquele incentivo gelado fez-nos regressar de bom grado ao ponto de partida. Depois de alguma indecência em trajos menores na berma da N15 recolhemos ao conforto das viaturas só voltando a parar à entrada de Amarante para recuperar o estômago na Tasca do João.

Dia de reis, mas nem todos magros

#Festive500 2017

Prólogo

No primeiro ano em que este desafio foi lançado no Strava não pude participar. Tenho memória de que  foi complicado para quem meteu pedais ao caminho: chuva, vento, frio, houve de tudo. Li na altura alguns relatos que me deixaram aquele sentimento de “quem me dera lá ter estado”. No ano seguinte a coisa proporcionou-se e fiquei com belas memórias de grandes passeios em dias frios de inverno. Daí para cá espero com ansiedade por aquela semana do ano em que o estímulo dum objectivo a cumprir nos faz sair da casa para enfrentar, por vezes, condições nada agradáveis. Mas no fim sobram sempre recordações que alimentam o desejo de repetir no ano seguinte.

Dia 1 – Domingo 24, o arranque apreensivo

Um princípio de febre, diarreia e mal estar geral tinham-me apoquentado a meio da semana. Apesar de tudo não parecia grave e dois dias depois já parecia recuperado mas duas dúzias de kilometros de teste na sexta-feira deixaram-me de rastos. Durante a noite ainda me doeu a cabeça e de madrugada levantei-me para me socorrer do ben-u-ron. Quando passadas umas horas o despertador tocou, levantei-me apreensivo. O percurso previsto ultrapassava um pouco os 100km. Se na sexta-feira tinha sido assim…

Para meu alívio afinal senti-me bem. O traçado levou-me a revisitar uma zona entre Prado e Barcelos que na semana anterior já tinha visitado com o Tico, proporcionando a descoberta de mais umas estradas e um surpreendente troço do Rio Neiva.

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#Festive500, dia 1, 110km
Dia 2 – Segunda 25, a tranquila manhã de Natal

Não me recordo se algum dia calhou ter pedalado no dia de Natal. Sendo assim esta pode contar como uma estreia. Que tranquilidade fantástica. Não havia quase ninguém na rua. Subi devagarinho até à Assunção. O tempo tinha mudado. Havia vento e a certa altura uma chuva não muito intensa resolveu acompanhar-me um pouco. Desfrutei a descida da Seroa e rolei tranquilamente até casa.

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#Festive500, dia 2, 54km
Dia 3 – Quarta 27, não há arrependimentos

O dia anterior esteve mau em termos meteorológicos. Dizem que o responsável foi um tal de Bruno. Aproveitei para tratar de outros assuntos. Mas neste dia havia que continuar e o plano era um pouco mais ambicioso: estimava mais de 150 kilometros, alguns deles por locais ainda desconhecidos mas que prometiam paisagem interessante. Para isso necessitava de chegar às pontes de Entre-os-Rios, lá para as bandas de Alpendurada. A previsão meteorológica era algo incerta mas dava esperanças de sossego durante a manhã. Ao sair de casa, atendendo às zonas negras que havia em vários pontos do céu, tive as minhas dúvidas. O trajecto escolhido incluía a tranquila subida pela Capela e a certa altura julguei que S. Pedro era mesmo meu amigo, atendendo ao lindo céu azul que por cima de mim deixava passar o sol. Mas eis que na descida para as termas de S. Vicente tudo muda muito depressa. Grandes nuvens negras começam a cobrir o céu, aparece a chuva deixa de haver sinais do céu azul de há pouco. A sensação com que fiquei é que dali só podia piorar e comecei a ponderar como seria passar uma horas no meio daquilo e em estradas cujas dificuldades desconhecia. Em suma, acagacei-me!

Resolvi por isso virar para Penafiel e improvisar algo para regresso a casa. Nota mental: não voltar a pedalar na EN106!

Entretanto o tempo mudara mais uma vez, voltando a dissipar as nuvens (que mais tarde voltariam, acompanhadas de chuva, e voltariam a desaparecer… e voltariam…). Comecei a censurar-me: foste medricas, não sabes que a regra de ouro é “stick with the plan”? Tenho uma memória de ir a subir a principal avenida de Penafiel enquanto me debatia com estes pensamentos e a certa altura decidir que a decisão foi consciente, estava tomada e não ia deixar que o remorso me estragasse o resto da jornada. Nada de arrependimentos, ainda havia muito caminho para andar.

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#Festive500, dia 3, 131km
Dia 4, Quinta 28, pernas tristes

Com coisas para fazer de manhã, fui pedalar depois de almoço. Não se pode dizer que o frio tenha marcado a sua presença por estes dias mas a chuva sim, o que fez com que tenha saído de casa preparado para a enfrentar. Infelizmente fiz mal “as contas” e no fim, quando tentava justificar o facto de as pernas se terem portado tão mal, culpei a espécie de sauna que me envolveu durante todo o percurso por excesso de roupa. Se calhar o motivo até foi outro qualquer… Volta simples em que se destacou a sempre bonita subida da Penha.

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#Festive500, dia 4, 79km
Dia 5, Sexta 29, pernas felizes

Tão más tinham sido as sensações do dia anterior que ponderei se não seria melhor fazer um intervalo e dar descanso às pernas. Mas pela hora de almoço, sem compromissos para de tarde, a vontade voltou e lá me fiz à estrada. Mas desta vez ia fresco, inclusive de calções. Não sei se foi por isso ou por outro motivo qualquer (existe uma teoria baseada no consumo de vinho tinto…), a verdade é que as pernas estavam soltas e o ritmo foi fácil e agradável. Aeródromo, Sta. Eufémia, Fradelos… quando cheguei a casa apenas me faltavam 50 kilometros para o objectivo. Com dois dias ainda de sobra, podia afirmar que estava feito.

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#Festive500, dia 5, 75km
Dia 6, Sábado 30, de volta à roda grossa

E para a jornada derradeira ia mais uma vez ter a companhia do Tico. Só lhe fiz uma proposta: vamos a Quereledo comer uma sandes de rojão e beber uma cola, pelo caminho fazemos uns trilhos. E assim foi, um sobe e desce por trilhos quase sempre conhecidos. Aqueles que não eram conhecidos até deram para empurrar a montada. Muita conversa pelo caminho e no regresso ainda fomos visitar e desejar um bom ano a uma velha glória. Havia uma ténue esperança de que a nossa presença a recuperasse mas essa perspectiva não parece estar estar no horizonte.

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#Festive500, dia 6, 56km
Epílogo

Todos os anos este desafio é diferente e este não foi excepção. Houve anos marcados por percursos que tiveram algo de épico, o do ano passado foi complicado por estar ainda a convalescer do acidente. Este diria que foi o da oportunidade. Passo a explicar: tinha planos mas que não me iriam dar prazer caso se cumprissem as piores previsões da meteorologia e por isso fui andado ao correr das oportunidades. Foram voltas mais pequenas e, curiosamente, acabei por apanhar pouca chuva, inclusive menos que no desafio de anos anteriores.

#Festive500 2017

Cumprido, não comprido

Começando pelo fim, vir até à Cabreira para fazer apenas pouco mais de 40km. Perguntei ao meu camarada Tico se lhe tinha sabido a pouco. Como habitualmente, o seu bom feitio assegurou-me que estava tudo bem. Conheço-o o suficiente para saber que estava a ser sincero. A verdade é que ninguém me poderia acusar de ter vindo ao engano pois tinha divulgado atempadamente, a quem interessasse, quais as características do percurso escolhido para este dia. Mesmo assim lá tinham aparecido algumas das habituais bocas de desconfiança “(…)volta sem dificuldade de maior!!! É a Cabreira!(…)” que me têm levado a pensar cada vez mais em voltas para mim e menos para fazer convites. Cada qual sabe das suas capacidades. Apenas faço o convite e não sou mentiroso. Bastava terem dito que não, dispenso outras avaliações.

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Mal chegámos a Torrinheiras encontrámos o Picão que de imediato nos reconheceu e disponibilizou o estacionamento do seu restaurante para aí deixarmos o carro. Por aquela hora da manhã sentia-se a brisa gelada típica daquelas cotas. Mas não tardou a que entrássemos nos trilhos e começássemos a subir. Passado algum tempo o corta-vento entrava na mochila e de lá não sairia mais até ao fim da jornada.

Não devo ter feito bem o trabalho de casa… Contava percorrer um trilho, a caminho de Busteliberne, que parecia desafiante nas fotos aéreas do Google mas que afinal se revelou um estradão. Pior, já tinha lá passado nos últimos dois anos e esquecera-me disso.

A previsão, ou melhor, a fé na meteorologia é que tinha resultado em pleno.  Desejava um dia sem chuva mas com os trilhos molhados, pois acho que ficam com outra beleza. E foi isso que tivemos! A chuva forte do dia anterior sumiu durante a noite.

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Desilusão foi o panorama depois da casa florestal da Veiga: grande parte daquelas encostas tinham sido consumidas pelos fogos florestais. Alguns kms à frente o cenário melhorou e felizmente até ao fim, que me lembre, não encontrámos mais sinais de incêndios recentes.

Entretanto estávamos na encosta sobranceira à aldeia de Agra e descemos um bonito trilho repleto de musgos e coníferas que em tempos tínhamos percorrido em sentido contrário. Aqui o trabalho de casa tinha sido bem feito e o GPS ia-nos sucessivamente desviando dos caminhos óbvios. Vegetação luxuriante, cores de outono e até uma subida bem técnica para desafiar o físico levaram-nos ao sopé do Talefe.

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O Talefe desta vez não estava na lista de interesses. Em vez disso tínhamos à nossa espera a ponte romana da Quebrada sobre o Rio da Lage, perto de Campos. Tratava-se duma sugestão do Major, que à última hora não nos pode acompanhar. Segundo ele, tinha-a visitado num passeio pedestre com o cão. O caminho para lá chegar pareceu-nos apropriado para esse tipo de actividade, desde que com calçado adequado. Sempre que o instinto de preservação nos convidou a apear os sapatos de BTT mostraram grande dificuldade de aderência no granito molhado.

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Demorámo-nos junto à ponte que atravessa um rio que, aparentemente, não está a sofrer muito com a seca. O local é realmente digno de ser visitado e as fotos multiplicaram-se. O Tico apreciava o sossego do local e, talvez resquícios duma semana de trabalho complicada, manifestava interesse em abraçar a vida do campo. Mas tínhamos de continuar.

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Em Linharelhos mais um desvio para investigar uma curiosa construção que se tinha revelado também nas fotografias aéreas. Havia o caminho conservador para lá chegar. E havia uma alternativa que se havia revelado também nessas fotos mas que não dava perceber se era realmente um caminho ou um longo muro de pedra. No local verificámos que era mesmo um trilho, técnico q.b.

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A construção era uma pequena barragem com um escoador que lançava água para um túnel que desaparecia nas entranhas da terra. Ficámos curiosos quanto ao destino da água. Atendendo à direcção do túnel e a um painel que indicava ser aquela barragem um complemento da da Venda Nova, presumimos que fosse esse o seu destino.

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Em Caniçó entusiasmei-me com um engraçado single-track pelas traseiras dos quintais e perdi o meu companheiro. Enquanto esperava fui abordado por três simpáticos irmãos, uma menina e dois meninos. Com as caras encardidas e grandes moncos no nariz, mostravam grande alegria por ver ali aquele forasteiro de bicicleta. Fui metendo conversa e eles lá foram desbobinando pormenores da vida familiar. Com 6, 11 e 12 anos eram os mais novos de quatro irmãos. Para grande alegria de um deles deixei-o sentar em cima da bicicleta e empurrei-o durante duas voltitas. O Tico entretanto apareceu. Despedimo-nos deles com um “até à próxima”.

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A ligação de Caniçó a Paredes seria uma demonstração de fé da minha parte. Todo o percurso tinha sido desenhado com recurso aos mapas e ao Google Earth e estre troço era o que me tinha suscitado mais dúvidas. Mesmo assim resolvi mantê-lo no projecto. O início até foi prometedor. Um ribeiro, uma lage de granito para o atravessar… mas foram só meia dúzia de metros. Depois… bom, acho que vou entregar o risco ao outro, pode ser que queira lá ir passear com o cão.

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Depois de Paredes a oportunidade de, finalmente, percorrer um pouco dos trilhos na floresta a leste desta localidade. Há anos que pedalo por aquela região e aquele pedaço nunca tinha calhado em nenhum percurso. Valeu a pena e há até motivos para lá voltar a passar.

Faltavam menos de 10km de rompe pernas até Torrinheiras. O percurso, apesar de curto, tinha sido bem condimentado. Ao longo deste relato esqueci de referir que lá pelo meio até tive oportunidade de experimentar a textura fofa do granito.

Chegámos cedo e desta vez ficámos por ali na conversa enquanto degustávamos um dos pratos do dia do Picão. Sinais dos tempos.

Todas as fotos disponíveis aqui.

Cumprido, não comprido

O Vez outra vez

Vária vezes tenho dito que é daquela serra que tenho as melhores recordações o que a torna, eventualmente, a minha favorita. Daí que um convite para lá voltar a pedalar seja irrecusável, ainda que por duas vezes a tivesse visitado nos últimos meses. O percurso, de BTT, nem seria muito diferente daquele do início de Julho mas, se o simples apelo do local não bastasse, ainda havia a expectativa de conhecer alguns caminhos novos.

Revelou-se um dia violento para o esqueleto. A entrada a frio na parte mais acidentada da ecovia, o Trilho dos Mortos e as tenebrosas escaladas de Currais e Sta Marinha marcaram o resto da jornada.

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Nem todos partilharão esta opinião mas a minha parte favorita do percurso, apesar do cansaço já acumulado, foi a Branda da Aveleira. Muitas vezes tinha ali passado nas redondezas mais foi a primeira vez que entrei na aldeia que fiquei com vontade de conhecer melhor.

Fiquei muito desiludido com o que aconteceu aos trilhos do planalto e às descidas para o Mezio, Lordelo e outras. Paço a explicar: todos aqueles trilhos técnicos que durante tantos anos fizeram as delícias de quem gostava de os percorrer de BTT foram sujeitos às máquinas. Agora são estradões onde até dá para passear de Kangoo.

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A companhia foi simpática, tudo bom moços. Mas não posso deixar de achar piada ao contraste entre o ruído que alguns deles fazem e as fotos que depois tiram, apresentando o ar contemplativo de quem absorve o espírito da montanha.

O Vez outra vez

Manobras XVII

Passados 17 anos ainda continua a haver quem tenha força de vontade para manter de pé este encontro de seres pedalantes. Se mais motivos não houvesse, pelo menos o estoicismo deste pessoal merece ser recompensado com a nossa presença. E lá compareci, mas não para recompensar alguém. A verdade é que ainda conseguem arranjar um percurso agradável com segmentos capazes de surpreender (mesmo os conhecedores da região). E isso não é fácil, num território dominado pela monocultura do eucalipto e onde nem sempre são respeitadas as preocupações ambientais.

Desta vez fui sozinho e assim fiz questão de me manter durante a totalidade do percurso. Queria apenas andar de bicicleta, passar um bom pedaço nos trilhos e isso, no meu entender, não combina com tipos aos berros ou com uma grafonola humana a debitar constantemente histórias dos caminhos de Santiago ou do sexagésimo lugar que conseguiu num evento qualquer.

Já há cerca dum ano que não participava em algo com mais de meia dúzia de pessoas, a última vez terá sido mesmo o Manobras XVI. Constatei com agrado que a moda das meias altas parece estar a esmorecer. Já as rodas grandes parecem ser agora omnipresentes, o que torna a minha velha montada algo de excepcional hoje em dia.

Estranhará talvez o leitor o facto de desta vez não haver nenhuma foto a ilustrar o texto. A verdade é que levei máquina e à primeira paisagem digna de registo encostei ao lado e preparei-me para registar o cenário, com os ciclistas em fila a percorrerem um bonito singletrack pelo meio dum bosque frondoso. Precisamente no momento em que pressiono o botão do obturador, um idiota, apercebendo-se, levanta o dedo em sinal de “kudos”, arruinando a foto. Perdi a vontade de fotografar mais.

Além do bosque citado no parágrafo anterior, ali para as bandas de Vilarinho das Cambas, o percurso teve outros momentos altos: os trilhos técnicos da Cividade, uma dura subida para os lados de Viatodos e a descida que se lhe seguiu. Percurso bem desenhado que merecia outro reconhecimento.

O Manobras nunca atingiu a popularidade de outros eventos. O pessoal parece que prefere pagar para fazer um qualquer percurso maricas, sem arranhões, com fotógrafo profissional que tolere os “kudos” e uma classificação (de preferência com muitos escalões, para aumentar as hipóteses dum top 10 lá entre o pessoal da rua). Claro que no fim não pode faltar a comezaina, aliás, o parâmetro mais utilizado pelos participantes para avaliar a qualidade desses eventos.

Mas o M não tem nada disso. E é por isso que gosto.

Manobras XVII